Na contramão de seus colegas de ofício, o cabeleireiro faz sucesso com tratamento para enrolar os fios em vez de alisá-los.
Trindade: “Valorizar o visual natural está na moda”
Rebelde, indomável, desgrenhado, difícil, feio, ruim. Pergunte a uma mulher crespa como ela classificaria seu próprio cabelo e a resposta provavelmente será um dos adjetivos acima (ou coisa parecida). Pois, numa era em que muito se cobiçam madeixas lisas, um cabeleireiro da cidade tem se destacado por remar contra a maré. É o paulistano Robson Trindade, que se especializou em realçar o ondulado dos fios em vez de deixá-los escorridos.Cerca de 80% da clientela de seu salão na Vila Nova Conceição, o Red Door, é composta de gente determinada a largar alisantes e afins, que ele chama de “entorpecentes”. Por quê? “A pessoa começa a alisar e não consegue se livrar.”
O carro-chefe desse movimento do orgulho crespo leva o sugestivo nome de Angel. Consiste na aplicação de dois tipos de xampu e um condicionador destinado a estimular o cabelo a, por assim dizer, voltar às origens. No caso das cacheadas, o produto estimula os fios a se ondular. A água e o excesso de creme são absorvidos com um pano especial e reutilizável ou com folhas de papel-toalha. A finalização é feita com difusor (aquele acessório dos secadores que parece um chuveirinho) e hashis. Sim, aqueles palitinhos de madeira típicos dos restaurantes japoneses.
É tudo muito caro. O processo precisa ser repetido quatro vezes, num intervalo de, em média, quinze dias entre a primeira e a última aplicação, segundo o cabeleireiro. Apesar disso, é possível aprender o método em uma sessão. Cada uma custa R$ 290 reais, e é preciso comprar um kit de produtos para manutenção, que sai por R$ 449 reais - em geral, as freguesas compram um pacote que combina esses itens a um corte e tem preço de R$ 2 259 reais. “Apesar de ser um valor alto, representa libertar-se da escova”, defende Trindade, que em dias movimentados aplica o Angel em dezoito pessoas e jura que embolsa mensalmente R$ 85 000 reais. De acordo com ele, menos de 1% das que passam pelo tratamento volta ao visual escorrido.
Ironia do destino, Trindade dedicou boa parte de seus 33 anos de profissão (ele tem 51 de idade) a exterminar caracóis da mulherada. “Ganhava R$ 180 000 reais por mês com o alisamento japonês”, lembra ele, com o exagero habitual, sobre a técnica que abusa da química para esticar os fios. “Reparei que a mulher virava escrava daquilo e percebi que poderia explorar esse nicho de mercado.” Em 2003, ele aposentou de vez a chapinha e passou a recuperar cachos perdidos. O que seus colegas de tesoura pensam a respeito?
“Também ofereço esse serviço para as cacheadas”, afirma Celso Kamura, responsável pelos penteados da ex-prefeita Marta Suplicy e da presidenta Dilma Rousseff. Para Marco Antonio de Biaggi, autoproclamado rei das loiras, a brasileira não quer saber desse negócio de encaracolado. “Ter cabelo liso ainda é sinônimo de ser bem-sucedida”, decreta.
Trindade rebate. “Ao contrário de outros profissionais, sempre fugi do óbvio”, alfineta. Professor de visagismo da Universidade Anhembi Morumbi, ele afirma cobrar R$ 12 000 reais para dar palestras sobre beleza.
fonte: http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2176
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